Bolsonarismo é a revolta dos ressentidos


Querem viver na adolescência achando que sua teimosia muda algo:
O mundo avançou e as mulheres não serão mais subsmissas…
Os negros não se ajoelharão…
Os gays não voltarão ao armário…
Este ressentimento vocês terão que engolir
Lamento te esclarecer assim as coisas… mas é a verdade

Resposta: Na Amazônia tem uma máxima: Cada macaco no seu galho.

Talvez pra quem nunca viu uma sociedade de macacos! 😂😂😂
Não adianta brigar com os cientistas… A ciência não é feita no brasil, lamentavelmente…

Gênero existe e é uma categoria consolidada há mais de 60 anos… Não é porque os boys dos filhos do bolsonazi acham que é errado.
Que o pastor CORRUPTO e VAGABUNDO diz que é pecado.
A ciência não vai abandonar a categoria gênero!!!!
O papo de ideologia de gênero é só para tentar minar a discussão do do papel da mulher na sociedade!

Se não fosse o movimento comunista com mais de 250 anos de história os trabalhadores não teriam hoje direitos e estariam trabalhando 16h por dia como era na revolução industrial
Não é porque eu e meu grupelho não gostamos do comunismo que ele vai deixar de existir!

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1 Discordo de sua discordância… 😂


Diálogos, 090821, “brasil” bolsonerista…

1 Discordo de sua discordância… 😂

2 Opinião, todos tem. E todos tem certeza que tem razão. E que os outros são mau caráter. Redes sociais vivem de opiniões e certezas não verificáveis. Elas agravam a polarização que e nossa maior ameaça, pois divide e paralisa. Só os fatos podem nos salvar.

2 Para chegar a eles, precisa um esforço intelectual que é incompatível com o passatempo das bolhas das redes sociais. Fatos também trazem o risco de nós obrigar mudar de opinião. O que e difícil. 😉

1 O fim do modo de produção a que me refiro é o fim da exploração, do lucro ilimitado, da especulação…. Se isto acabar, não é mais capitalismo. E isto sem dúvidas nos trará um relacionamento com o planeta de forma totalmente diferente, relacionamento com os outros, com as mercadorias … Pensa se não houvesse propriedade privada de veículos, não poderíamos reduzir eles em 80% talvez? (Isto é chute), não investiríamos em transporte público em vez de privado?

1 É uma corrente de irracionalidades que este modo de produção nos leva… cada prédio poderia ter 1 única máquina de lavar roupa?

2 O problema é convencer as pessoas… racionalidade cada um tem a sua.

1 Vdd, acho que o convencimento vai ser a catástrofe ambiental que se avizinha, lamentavelmente

2 Qual a contribuição quantitativa das máquinas de lavar roupa para as emissões de CO2?

1 Só 1 exemplo

2 Carro de uso coletivo (ou como serviço) já é uma proposta capitalista.

1 Nada, continua privado. Não é a mesma coisa

2 Mas como a propriedade de um bem define o impacto ambiental?

1 Da terra, sem especulação, já citei… Do carro, está aí… Mas concordo, é uma mudança de paradigma e difícil

2 Quanto % do impacto ambiental do carro vem do uso? Provavelmente 80%. Propriedade coletiva do vai dar resultado se as pessoas pararem de usar. Transporte é luxo?

1 É uma mudança de sociedade e de postura que necessita, e todas juntas.

2 Mudança climáticas é queima de combustíveis fósseis, decomposição de carbonatos e destruição de florestas.

1 Perda de biodiversidade

2 Outro problema. Mas tudo isto e para suportar a vida cada vez mais longa de +7bi humanos. Tirando o desmatamento, o resto depende principalmente de tecnologia.

1 Sim, ela que está nos levando ao buraco, a tecnologia… Por isto precisamos acabar com publicidade, fazer uso dos bens mais racional que a propriedade não permite… Não vamos investir em transporte público enquanto houver lobby das montadoras.

1 Não vamos fazer extração mais racional e ambientalmente responsável enquanto o lucro dor o principal objetivo. Não mudamos a sobre pesca, quantidade de consumo de carne, enquanto houver lobby dos produtores. Propaganda do consumo de carne.

1 Monte de gente trabalhando e sabotando iniciativas para preservar seu lucro, isto é ridículo

2 E como vamos mudar as pessoas? Lobby tem de empresa capitalista? Funcionários públicos, motoristas de caminhão, moradores de <cidade> não fazem? Como “racionalizar” um sistema produção e de consumo global, que envolver gentes com várias culturas e necessidades diferentes?

2 Quem vai definir o que e racional ? E aqueles que discordarem das definições?

1 Produção de um monte de porcaria que vai pro lixo em 1 semana… Isto tudo e resultado da estruturação do nosso modo de produção né. Tirando sobrevivência, Necessidades são e foram criadas…

1 Como racionalizar? Bom começo é acabando com lucro ilimitado, especulação, propriedade…

2 Qual o peso dos descartáveis na emissão de CO2? No desmatamento?

1 Não vamos proteger os povos originários e comunidades tradicionais enquanto os seus territórios forem vistos somente sob a ótica do lucro, e estes povos são os mais eficientes na defesa ambiental, na preservação de seus costumes e modos de vida

2 A pobreza, a baixa expectativa de vida, de uma forma geral, é muito ecológica.

1 Se vc tem preconceito em relação aos modos de vidas deles, acho que deveria ir passar um tempo em alguma aldeia ou comunidade… Todos querem viver bem, mas os modos de vida tem haver com perspectivas e diferentes formas de ver o mundo, tão ou mais válidas que a “ocidental”

2 Eu não tenho quaisquer problemas com eles. Só que o modelo deles não e solução para a sociedade moderna: até porque não dá para sustentar 7bi com o modo de vida deles.

1 Mas o modo de vida que é verdadeiramente insustentável é o capitalista, não o tradicional….

Capitalismo fracassado

Bem, se o comunismo é fracassado, o que sobra pro capitalismo? Quantas guerras, invasões, colonização de outros países, genocídio dos povos originários, escravidão e agora, escravidão moderna…. Acho que as pessoas não conseguem perceber e sentir porque a história é escrita pelos vendedores né?
Importante do comunismo é a possibilidade, de superação do deus propriedade privada dos meios de produção.
De apontar uma saída do sistema produtivo mais irracional de todos, o capitalismo, que permite, veja só, obsolescência programada em um mundo minado pelas alterações climáticas.
De mais, estamos aqui para repetir erros e problemas que outros povos tiveram ou inventar nosso próprio caminho?
Criticar os outros é fácil, difícil é construir… Ainda mais cercado de países que sabotam, impõe embargos.
Mas legal a ideia do texto!
Só bolsonarista acha q o mundo é dominado culturalmente pelo comunismo! 😂 Como pode né, reino do individualismo, da meritocracia… Q comunismo é este??
No quesito história escrita pelos vendedores, vejam contra-historia do liberalismo, do Losurdo, super livro, tenho pdf
Não é atoa que Caetano mudou de opinião com a idade que tem… é uma bela análise detalhada das ideias e das discussões de diversos teóricos do liberalismo confrontada com a época histórica
Incrível a quantidade de referências… Locke, Smith, Benthan, Tocquevile e muitos outros eram escravistas… O liberalismo era só para a “comunidade branca”, proprietária… sempre foi… Populações tradicionais, escravos e servos não estavam incluídos e podiam ser exterminados… mulheres sem direitos também… E ainda hoje enchemos a boca pra falar destes autores ignorando sua obra completa…
400 anos de escravidão no mundo, desde o nascimento do mercantilismo e capitalismo industrial… 500 anos de genocídio das populações tradicionais, até hoje… Nada disto incomoda(va) as elites… teoricamente começa a mudar só com os radicais pós revolução francesa…
Agora, qual movimento que levou a conquista de direitos trabalhistas???? Do voto feminino e depois sufrágio universal???
Dica: começa com comun… ☭☭☭☭☭
Ou será atoa que há mais de 200 anos comunistas são perseguidos pelas elites?

ONDE ATERRAR?

Texto de Bruno Latour, tradução do original em francês de Marcela Vieira e revisão técnica de Alyne Costa. Fonte: https://piseagrama.org/onde-aterrar/

Neste trecho adaptado por PISEAGRAMA do livro “Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno”, recém publicado em julho no Brasil pela Editora Bazar do Tempo, o filósofo Bruno Latour reflete sobre os impasses da divisão entre ciências sociais e naturais e propõe outros modos de investigar, compreender e viver com a Terra.

A prova de que o movimento ecológico não conseguiu definir com suficiente precisão o Terrestre, esse grande ator político, é que a ecologia não soube produzir uma mobilização social à altura dos desafios. Ficamos sempre surpresos ao ver a distância que existe entre a potência dos afetos suscitados pela questão social desde o século XIX e a potência dos movimentos ecológicos desde o pós-guerra.

Um bom indicador dessa distância é o admirável livro de Karl Polanyi, A grande transformação. O que é desolador ao ler Polanyi não é constatar que ele se enganou ao acreditar que os danos do liberalismo seriam coisa do passado, mas sim ele ter pensado que tais danos provocaram apenas uma única reação, que podemos chamar de a grande imobilidade das referências políticas. Como seu livro é de 1945, os 70 anos seguintes demarcaram com precisão o lugar, lamentavelmente vazio, da outra grande transformação que deveria ter ocorrido, caso os movimentos ecológicos tivessem sabido assimilar, prolongar e ampliar a energia criada pelos diferentes tipos de socialismo.

Continue Lendo “ONDE ATERRAR?”

Elefante na sala

Precisamos fazer “os ricos” entenderem que a pobreza não existe por falta de competência ou por escolha!

Os modos de vida originários nunca tiveram o “trabalho expropriado”: as pessoas nunca precisaram trabalhar para outro ficar rico. Pesquisas mostram que em média, indígenas, aborígenes trabalhavam de 3 a 4 horas por dias para manter sua comunidade… O modo ocidental é diferente né? Os “civilizados” são diferente né?

Precisamos entender que a riqueza dos países chamados “desenvolvidos” vem da escravidão e colonização do mundo inteiro. Da destruição de centenas de milhares de modos de vida alternativos, para que 1% possa enviar um carro para o espaço… Aí entra o interessante debate sobre o que é o “liberalismo”:

Assim, talvez possamos parar de culpar os pobres por sua pobreza. Possamos parar de querer dizer que é a quantidade de pessoas que é nosso problema principal, quando sabemos que é a distribuição das riquezas que impede o pleno “desenvolvimento” real, não o capitalista, dos povos…. Pois o capitalista coloniza os modos de vida originários, os força a trabalharem de forma expropriada e induz o consumismo, como faz há 500 anos…

Acho que nós que cursamos alterações climáticas, pessoas com preocupações ambientais, conseguimos entender que o modo de vida ocidental não é mais viável. Este movimento de ultra direita dialoga com o liberalismo, como este dialogou com o (nazi)fascismo… Só que a diferença é o poder da internet, das fake news e do próprio capitalismo em crise…

Contra História do Liberalismo. Domenico Losurdo.

👆 excelente, só a primeira parte já dá uma grande noção do peso do sistema escravista das colônias durante quase 400 anos, de que forma era a pedra angular das sociedades… A “sociedade ocidental” é forjada no sangue e genocídio…

Este modelo de “civilização”, ou melhor, de “civilizados”, é o que está destruindo nosso planeta
os neo-nazistas vem com a crise do próprio sistema, como era no início do séc. XX… só tem a voz ampliada pelas redes sociais, cujos algoritmos são de quem mesmo? ha, de empresas, que também apoiaram a ganharam muito dinheiro com os (nazi)fascismos…

A meritocracia garante que se você for jovem e pobre, mas trabalhar duro, consegue ascensão social, quando, na verdade, consegue somente deixar de ser jovem.

Talvez agora consigamos criar campos de concentração ainda maiores, separar crianças dos pais, como o país campeão das “liberdades” faz, fazer mais de 100 guerras em 1 século e ser o herói “das liberdades”… Mas o problema é a China…

“O que é notório, justamente porque é notório, não é conhecido. No processo do conhecimento, o modo mais comum de enganar a si mesmos e aos outros é pressupor algo notório e aceitá-lo como tal”.

As pessoas se veem ameaçadas, não acreditam mais que seus filhos viverão de forma melhor do que eles… Daí achar culpados é fácil: é o comunismo, são os estrangeiros, os sindicatos… E é tudo ao contrário né? Estes são os bodes espiatórios para não vermos o elefante na sala…. Na verdade, qualquer ataque ao que for coletivista, contra as “liberdades”, as “propriedades”, pode encaixar e servir…

vale tudo para não vermos o elefante na sala, que se chama capitalismo…

Esquerda e Direita frente à Ética

Ladislau Dowbor[1]

5 de março de 2014

 “Mentimos, trapaceamos e justificamos tão bem que

passamos a acreditar honestamente que somos honestos.”

Jonathan Haidt (82)

É difícil traduzir a expressão inglesa “self-righteousness”. Expressa a profunda convicção de uma pessoa de que domina os outros da altura da sua elevada postura ética. Em geral leva a comportamentos estreitamente moralistas e intolerantes. E frequentemente vemos atos violentos justificados com fins altamente morais. Não há barbárie que não se proteja com argumentos de elevada nobreza. Sentimento que  permite soltar as rédeas do ódio, aquele sentimento agradável de odiar com boas razões. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade representou um marco histórico da hipocrisia na defesa de privilégios. Vêm mais marcha por aí, a hipocrisia tem pernas longas. As invasões de países se dão em geral para proteger as populações indefesas, as ditaduras para salvar a democracia, os ataques sexuais são feitos da altura moral de quem usa os buraquinhos como se deve. 

Jonathan Haidt, no seu livro The Righteous Mind, que traduziremos aqui por ‘a mente moralisante’, para distinguir da pessoa meramente ‘moral’, parte de um problema relativamente simples: como é que a sociedade americana se divide, de maneira razoavelmente equilibrada, em democratas e republicanos, cada um acreditando piamente ocupar a esfera superior na batalha ética, e considerando o adversário como hipócrita, mentiroso, enfim, desprovido de qualquer sentimento de moralidade? O imoral, é o outro. E no entanto, de cada lado há pessoas inteligentes, sensíveis, por vezes brilhantes – mas profundamente divididas. Em nome da ética, o ódio impera.

O tema, evidentemente, não é novo. Um dos livros de maior influência, até hoje, nos Estados Unidos, é O Dilema Americano, de Gunnar Myrdal, dos anos1940, que lhe valeu o prêmio Nobel. É uma das análises mais finas não dos Estados Unidos, mas do bom americano médio, e de como cabem na mesma cabeça a atitude compenetrada no serviço religioso da sua cidade, a profunda convicção da importância da liberdade e dos direitos humanos, e práticas como a perseguição dos negros? O livro é muito inteligente, e correto. Myrdal adverte que desautoriza qualquer uso da sua análise para um antiamericanismo barato. O objetivo dele não é defender ou atacar, é entender. Mas conclui que “o problema negro”, nos Estados Unidos, “é um problema dos brancos”. A análise, naturalmente, poderia ser estendida para muito além da mente americana.

O campo de trabalho de Haidt é a disciplina chamada psicologia moral, moral psychology. Estuda justamente como se articulam, em termos psicológicos, as construções dos nossos valores, e em particular os valores que podemos qualificar de políticos. Com quê base real passamos a achar que o que fazemos é moralmente certo, ou correto? Através de quê mecanismos o que era razão se transforma em mera racionalização de emoções subjacentes?

Há as leis, naturalmente, mas estas definem o que é legal, e frequentemente as leis foram elaboradas por quem as manipula, tornando legal o que é moralmente indefensável. Os paraísos fiscais permitem às corporações pagar poucos impostos, o que não é viável para a pequena empresa. Não é ilegal declarar a sua sede no paraíso fiscal, e evitar assim de pagar impostos no país onde a empresa funciona, enquanto os seus empregados naturalmente pagam os impostos normalmente, inclusive porque são deduzidos na folha de pagamento. Basta ser legal para ser ético? Snowden, aos revelar a amplitude da invasão da privacidade e do uso invasivo das tecnologias de rastreamento da NSA, cometeu um ato ilegal, do ponto de vista da justiça americana (ainda que com controvérsias), mas o fez, com risco próprio, por razões éticas. Os que lutavam contra a escravidão eram presos e condenados. Mandela pagou 30 anos da sua vida por combater um regime legal, mas medieval. Os republicanos qualificam Snowden de traidor, como a Máfia considera traidor quem não se solidariza com o grupo, ainda que seja para cometer crimes. A ética pode ser muito elástica.

Há um referencial confiável, um valor absoluto? Durkheim escreveu que “é moral tudo que é fonte de solidariedade, tudo que leva o homem a regular as suas ações por algo mais do que o seu próprio egoísmo”. Haidt busca “os mecanismos que contribuem para suprimir ou regular o auto-interesse e tornam as sociedades cooperativas.” (270) Paulo Freire, que era um homem simples, mas não simplório, resumia a questão, dizendo que queria “uma sociedade menos malvada”. Com quê mecanismos psicológicos grupos sociais conseguem justificar em termos éticos o que claramente traz danos aos outros, e vantagens para elas? Chamemos isto de racionalizações, coisa que Haidt chama de raciocínio motivado (motivated reasoning).(159)

Haidt entra no coração das racionalizações. A visão é de que buscamos mais parecer bons do que ser bons. “Mentimos, trapaceamos e dobramos regras éticas frequentemente quando achamos que podemos sair impunes, e então usamos o nosso raciocínio moral para gerir as nossas reputações e justificar-nos junto aos outros. Acreditamos no nosso raciocínio a posteriori tão profundamente que terminamos moralisticamente (self-righteously)  convencidos da nossa própria virtude”. Somos tão bons nisto, que conseguimos enganar até a nós mesmos. (190, xv)

A visão geral de Haidt é que o raciocínio serve essencialmente para justificar o que já foi decidido por outros mecanismos, intuitivos: “É o primeiro princípio: as intuições chegam em primeiro lugar, o raciocínio estratégico em segundo” (xiv). O que resulta é um raciocínio de confirmação, não de análise e compreensão: “Que chance existe que as pessoas pensem de mente aberta, de forma exploratória, quando o auto-interesse, a identidade social e fortes emoções as fazem querer ou até necessitar chegar a uma conclusão preordenada?” (81)

Provavelmente o maior interesse do livro de Haidt, é que nos permite entender um pouco melhor este nosso poço escuro de ódios e identificações políticas, ao detalhar, baseado em pesquisas, a diversidade das motivações. Ele trabalha com uma “matriz moral” de seis eixos, que estão por trás das nossas atitudes de solidariedade ou de indignação, de aprovação ou de ódio.

O primeiro é o “cuidar” (care), que nos faz evitar causar danos aos outros, querer reduzir sofrimentos. Está dentro de todos nós. Ao ver um cachorrinho ser maltratado, ficamos indignados, ainda que não gostemos de cachorro. É um motor poderoso, que exige, inclusive, que as pessoas que massacram ou torturam outras precisem “desumanizar” a sua vítima, transformá-la em objeto fictício: É um terrorista, um comunista, um marginal, um gay, uma puta, qualquer coisa que a rebaixe do  status de pessoa, permitindo o tratamento desumano. O garotão de classe média que ateia fogo ao mendigo se sente, inclusive, mais “pessoa”. Está “acima”. O mendigo não é pessoa, é mendigo. Vai trabalhar, vagabundo.

A liberdade (liberty) constitui outro vetor de valores, com o correspondente repúdio à opressão. Naturalmente, para muitos, a liberdade significa também a liberdade de oprimir, mas para isto precisam aqui também reduzir a dimensão humana de quem oprimem. Os doutores do direito canônico resolveram assim o dilema de se defender a liberdade de ter e de caçar escravos: o negro não teria alma. Os vietnamitas foram massacrados para proteger o seu direito à liberdade. Assim todo valor precisa criar as suas hipocrisias para ser violentado. Foi em nome da liberdade que nos Estados Unidos e aqui no Brasil repelimos a limitação das armas de fogo pessoais, ainda que se saiba que os donos são as primeiras vítimas. E no entanto, reconhecemos sim a aspiração à liberdade como um valor fundamental, que orienta as nossas opções éticas.

Um terceiro vetor de valores está no que consideramos de tratamento justo, ou não desigual. Em inglês, o conceito utilizado, fairness, fica mais claro. Milhões de brasileiros ficam indignados em cada fim de semana, quando o árbitro dá um cartão amarelo por uma falta, e não dá o mesmo cartão em falta semelhante do outro time. Se o cartão foi merecido ou não, é até secundário, gera indignação o tratamento desigual. Critério ético perfeitamente válido, e têm razão milhões que vêm como escandaloso o tratamento desigual na justiça, que ostenta no seu símbolo a balança, a imparcialidade. O sentimento é muito enraizado. Pesquisa com macacos mostram que se um macaco recebe uma comida mais gostosa, os outros que receberam a mesma comida que sempre comeram e gostaram, se recusam a comer.

Um quarto vetor é o da lealdade (loyalty) que nos faz buscar adotar os valores do nosso grupo, considerando traidor quem não os adota. Muito utilizado nas forças armadas, o esprit de corps, faz com que por exemplo militares jurem com toda tranquilidade que os seus colegas não torturaram, ou não estupraram, porque se sentem leais aos seus companheiros, esta lealdade superando inclusive a consideração ética sobre o crime cometido. Gera inclusive um agradável sentimento de pertencimento heroico ao grupo. Um filme famoso, com Al Pacino, Perfume de Mulher, é centrado neste tema: um jovem universitário que constatou uma pequena bandidagem dos seus colegas, recusa-se a denunciá-los, ainda que o ameacem de prejudicar o seu futuro universitário. O sofrimento dele permeia todo o filme, justamente porque é um rapaz profundamente ético.

Um quinto conjunto de valores está centrado na autoridade (authority) que nos faz considerar ético o que os líderes decidem, e chamar de subversivos os que se rebelam. Esta identificação a priori com a autoridade é profundamente escorregadia, em particular porque nos permite fazer qualquer coisa com a justificativa que estávamos cumprindo ordens. Aqui, o maravilhoso texto de Hannah Arendt nos ajuda muito, pois nos permite entender que não se trata apenas de criminalizar quem se esconde atrás do argumento de autoridade, trata-se de aprofundar como funciona a banalização do mal, e o tipo de ódio que muita gente tem contra quem os priva do que consideram ódio legítimo.[2] Vá dizer a pessoas de direita que o julgamento do STF foi preconceituoso: ficam apopléticos, estamos privando-os do gosto do seu ódio, ainda que só cego não vê as distorções, mas estas exigem o uso da razão, a capacidade de contestação objetiva. Há uma experiência muito conhecida, com estudantes universitários, chamados a dar choques elétricos a pessoas desconhecidas, a pedido de funcionários com batas de médico, que justificavam que se trata de uma experiência científica. A maioria dos estudantes não se fez de rogada.

O último vetor de justificativas éticas levantado por Haidt é o da santidade, (sanctity) ligada a valores sagrados como tradições ou razões religiosas, que nos fazem condenar ao fogo do inferno quem não acredita em outras visões de mundo.(297) Aqui temos um prato cheio. Uma leitura básica é o famoso manual de instruções da inquisição, que ensinava por exemplo que as mulheres suspeitas de bruxaria ou de serem possuídas deviam ser torturadas nuas, pois as fragiliza, e de costas, pois as expressões de dor e de desespero causados pela tortura, obra naturalmente do próprio demônio, podiam ser tão fortes que poderiam amolecer o inquisidor. Tudo em nome de Jesus, da caridade, do amor ao próximo. As mutilações de meninas, a quem se corta (sem anestesia) os lábios externos da vagina (clisteroctomia), atingem  milhões de crianças. Estamos no século 21.

Ao comparar as visões em inúmeras entrevistas de pessoas no espectro político completo, da esquerda até os mais conservadores, Haidt constata que há uma graduação muito clara relativamente a quais elementos da matriz se dá mais importância. Assim, a esquerda dá muito mais importância aos três primeiros eixos, ligados portanto a não fazer dano, não machucar, a reduzir o sofrimento e assegurar o cuidado; à luta contra a opressão e pela liberdade; e às regras limpas do jogo, com igualdade de tratamento, a chamada justiça social. Inversamente, a direita dá menos valor aos primeiro, e concentra as suas visões na lealdade de grupo (veja-se a KKK por exemplo), à autoridade e a correspondente obediência, e ao respeito de valores considerados sagrados no sentido em boa parte religioso, onde muitas vezes o sagrado mistura o político e o religioso, como no Gott mit Uns dos nazistas, acompanhado do símbolo da swastika. O fato de milhões ficarem fanatizados, num país que não poderia ser considerado de baixo nível educacional, é significativo. Não se trata de educação, e sim de instituições, de cultura política.

A conclusão interessante de Haidt, que é um confesso liberal, no sentido americano, por tanto correspondente ao que seria um progressista entre nós, é que a direita usa argumentos e sentimentos que calam fundo nas pessoas, pois mais fortemente ancoradas nas emoções, nos sentimentos de grupo, coesão, bandeira, religiosidade, autoridade e obediência. São mensagens que ecoam mais fortemente no emocional do que no raciocínio, e que em particular permitem dar uma aparência de legitimidade ética ao ódio. A direita americana, por exemplo, sempre agitou um demônio – externo naturalmente – para justificar tudo e qualquer coisa: Foram utilizados Khadafi, Saddam Hussein, Osama Bin Laden, até Fidel Castro, e hoje o terrorismo em geral. No Brasil temos o ótimo exemplo da Veja, que vive de agitar ódio contra demónios que explicariam todos os males. Funciona. Mas não resolve nada.

Explicar o drama de pessoas que passam fome (harm) e as estatísticas de mortalidade infantil apela muito mais para o raciocínio, que não tem o mesmo efeito mobilizador do que os argumentos que atingem o fundo emocional. Apelar para o emocional, inclusive quando se utiliza os primeiros eixos que são mais característicos da esquerda – por exemplo nos movimentos anti-aborto – dá à direita vantagens de um discurso simplificado e que pega mais no fígado do que na razão, como por exemplo a bandeira dos marajás do Collor, ou da vassourinha de Jânio Quadros.

Haidt busca um mundo mais equilibrado. Não desaparecerão as motivações mais valorizadas na direita. Mas o essencial do livro é que nos faz entender melhor as raízes emocionais da razão, a facilidade com a qual se constroem pseudo-razões e fanatismos. Ajuda-nos por exemplo a entender como se constrói uma campanha contra a presença de médicos cubanos em regiões onde médicos nossos não querem ir, projeto inatacável do ponto de vista humanista. Inúmeras razões são apresentadas, mal encobrindo um ódio ideológico que é a verdadeira razão. O ódio, como fenômeno de massas, é contagioso. Explicar racionalmente um projeto é muito menos contagiante.

Haidt se preocupa em particular com o poder que simplesmente não tem contas morais a prestar, o universo das grandes corporações. “Se o passado serve para nos iluminar, as corporações crescerão para se tornarem cada vez mais poderosas com a sua evolução, e elas mudam os sistemas legais e políticos nos países onde se instalam para gerar um ambiente mais favorável. A única força que resta na terra para enfrentar as maiores corporações são os governos nacionais, alguns dos quais ainda mantêm o poder de cobrar impostos, regular, e dividir as corporações em segmentos menores quando se tornam demasiado poderosas”. (297) Vem-nos à lembrança a frase de Milton Friedman, da escola de Chicago, de que as empresas, como as paredes, não têm sentimentos morais. Ou a visão proclamada em Wall Street: Greed is Good, a ganância é boa. Parece que uma parte do universo escapa a qualquer ética. O filme O Lobo de Wall Street vem naturalmente à memória. O personagem real da história, deu entrevistas dizendo que o filme não exagerou nada. Chega o denominador comum que assegura a absolvição por atacado: todos fazem, não fizemos nada que toda Wall Street não faça.

Aqui a dimensão é outra, pois se trata da diluição das responsabilidades nas instituições. Joseph Stiglitz, ex-economista chefe do Banco Mundial, “Nobel” de economia, e insuspeito de esquerdismo,  resumia a questão em pronunciamento na ONU sobre direitos humanos e corporações: “Mas infelizmente, a ação coletiva que é central nas corporações mina (undermines) a responsabilidade individual. Tem sido repetidamente notado como nenhum dos que estavam encarregados dos grandes bancos que trouxeram a economia mundial à borda da ruina foi responsabilizado (held accountable) pelos seus malfeitos. Como pode ser que ninguém seja responsável? Especialmente quando houve malfeitos (misdeeds) da magnitude dos que ocorreram nos anos recentes?”  Quando somos uma massa, e que todos fazem mais o menos o mesmo, o que pode ser linchamento de um rapaz na favela, ou massacres numa guerra, mas muito mais prosaicamente numa gigantesca corporação onde tudo se dilui, a ética se torna tão diluída que desaparece.

Ninguém gosta de se achar pouco ético. E nossas defesas são fortes. Não posso deixar de citar aqui o texto genial de John Stuart Mill, de 1861, escrevendo sobre a sujeição das mulheres na Grâ Bretanha da época, quando eram reduzidas a palhacinhas decorativas e proibidas de qualquer participação adulta na sociedade e na construção dos seus destinos. Ao ver a dificuldade de penetrar na mente preconceituosa, Mill escreve: “”Enquanto uma opinião estiver solidamente enraizada nos sentimentos (feelings), ela ganha mais do que perde estabilidade quando encontra um peso preponderante de argumentos contra ela. Pois se ela tivesse sido construída como resultado de uma argumentação, a refutação do argumento poderia abalar a solidez da convicção; mas quando repousa apenas em sentimentos, quanto pior ela se encontra em termos de argumentos, mais persuadidos ficam os seus defensores de que o que sentem deve ter uma fundamentação mais profunda, que os argumentos não atingem; e enquanto o sentimento persiste, estará sempre trazendo novas barreiras de argumentação para consertar qualquer brecha feita ao velho.”

A mensagem de Haidt não é de passar a mão na cabeça da esquerda ou da direita, e sim de sugerir que tentemos entender melhor como se geram os agrupamentos políticos, as identificações com determinadas bandeiras. os eventuais fanatismos, e as formas primárias como dividimos a sociedade em bons e maus. O maniqueísmo é perigoso. Quando vemos que os mesmos homens podem ser autores de atos abomináveis e heroicos, o que interessa mesmo é construir instituições que permitam que se valorize as nossas dimensões mais positivas. Nas palavras de Haidt, criar “os contextos e sistemas sociais que permitam às pessoas pensar e agir bem.”(92)

 

Jonathan HaidtThe Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion – (A mente moralista: por que boas pessoas são divididas pela política e pela religião) – Pantheon Books, New York, 2012, 420 p. – ISBN 978-0-307-37790-6

Joseph Stiglitz – 2013 UN Forum on Business and Human Rights  http://www.ohchr.org/Documents/Issues/Business/ForumSession2/Statements/JosephStiglitz.doc

John Stuart MillThe Subjection of Women – [1861] – Dover Publications, New York, 1997

Ladislau DowborHannah Arendt: além do filme – 2013, http://dowbor.org/2013/08/hannah-arendt-alem-do-filme-agosto-2013-3p.html/

Gunnar MyrdalAn American Dilemma: the negro problem and modern democracy –  1944 – inúmeras edições, inclusive em português.

 


[1] Ladislau Dowbor, economista, é professor da PUC-SP e consultor de várias agências das Nações Unidas. Os seus trabalhos estão disponíveis online (Creative Commons), na página http://dowbor.org . Contato Ladislau@dowbor.org

[2] Veja a respeito o meu texto sobre o filme Hannah Arendt, sobre a banalização do mal, em http://dowbor.org/2013/08/hannah-arendt-alem-do-filme-agosto-2013-3p.html/

Eis os economistas rebeldes

por Ladislau Dowbor – http://dowbor.org, Fonte: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/eis-os-economistas-rebeldes/

Em relatório do Instituto Roosevelt, o despontar dos “novos progressistas”: querem recuperar dimensão política da Economia, frear corporações e usar tecnologias para reduzir desigualdades. Afiançam: ultraliberalismo é aberração passageira

 

Felicia Wong – The emerging worldview: how new progressivism is moving beyond neoliberalism – A landscape analysis – Roosevelt Institute, January 2020 – 56p.
Leia a íntegra aqui (em inglês, 56p.)

O que está surgindo com muita força no mundo das ciências sociais, e em particular da economia, é a busca de novos rumos. As quatro décadas, dos anos 1980 até 2020, trouxeram uma visão simplificada e a narrativa correspondente de redução do papel do Estado, liberalização do comportamento corporativo e globalização dos fluxos econômicos. Em consequência, nós perdemos o pouco que havia de governança e de racionalidade durante os “30 gloriosos anos” do pós-guerra, em que se havia conseguido razoável equilíbrio entre o Estado, as empresas e as organizações da sociedade civil.

A visão de que o mundo econômico solto encontrará magicamente equilíbrios, por meio de “mecanismos” naturais, nos levou aos dilemas presentes. O vale-tudo corporativo está gerando um desastre ambiental planetário. O desencontro entre economia global e políticas nacionais leva a contradições absurdas. A financeirização está gerando desigualdade a níveis aberrantes. O conjunto jogou o planeta no caos político que hoje observamos em todos os continentes. Onde há pouco se dizia “There Is No Alternative” ou “É o Fim da História”; agora se busca recuperar o controle. Neste mundo desgovernado, correndo para o desastre, estamos todos procurando as rédeas.

Não faz muito tempo, ainda imperava a simplificação que vimos acima, com o discurso único dos chamados “ortodoxos”. Isso está mudando. Há uma verdadeira explosão hoje de análises que voltam ao bom senso. O imenso sucesso de Thomas Piketty é parte dessa reviravolta planetária, e o livro surgiu quando o mundo estava já à procura de novas visões. Com Michael Hudson passamos a entender a dinâmica financeira que está gerando a desigualdade aberrante que hoje enfrentamos. Ha Joon Chang nos apontou uma outra visão da economia, em particular relativa ao mundo centrado em novas tecnologias. Mariana Mazzucato nos trouxe uma visão muito mais realista do papel do “Estado empreendedor”. Kate Raworth apresenta um sistema de contabilização dos resultados econômicos que faz sentido, bem além do PIB. E, de repente, pesquisadores marginalizados na “heterodoxia”, visionários como Kenneth Galbraith, François Chesnais ou David Harvey aparecem como precursores que acordaram antes dos outros.

A economia não está despertando das simplificações ideológicas e das narrativas absurdas apenas de dentro da sua área. É a partir da área da psicologia social que Jonathan Haidt nos tira da patética simplificação do homo economicus e mostra como construímos racionalizações para o absurdo político. Frans de Waal, da antropologia, mostra como somos presas fáceis de uma irracionalidade que tem profundas raízes genéticas, não à toa estamos nos massacrando uns aos outros, em violências e guerras intermináveis desde sempre: ainda pertencemos em boa parte aos nossos antepassados primatas. Wolfgang Streeck nos traz com muita força a compreensão da interação entre a economia, a cultura e a política, concluindo que não é o fim do capitalismo, mas sim o fim do capitalismo democrático. Ou seja, as diversas áreas das ciências sociais terminam por recolocar a economia no seu devido lugar: um coadjuvante necessário mas insuficiente da análise integrada das transformações sociais.

Com isso, o que chamamos pretensiosamente de ciência econômica, o economics em inglês, está reencontrando os seus rumos, e a sua utilidade. The emerging worldview: how new progressivism is moving beyond neoliberalism, organizado por Felicia Wong, traz um leque de análises emergentes – abrangendo os conhecimentos que temos sobre os desastres em curso; e reaproximando a economia, a sociologia, a cultura e a política –, para construir uma visão muito mais realista, e para desenhar novos rumos para a própria economia. No quadro do Roosevelt Institute, que vem se revelando uma mina de reflexão inovadora, Wong apresenta, em relatório curto, de 56 páginas, uma sistematização das análises de cerca de 150 pesquisadores que buscam o desenhar novos caminhos, rejeitando o neoliberalismo que avaliam como aberração momentânea. O relatório conta com 8 páginas de bibliografia, o que nos permite visualizar, indiretamente, a amplitude que está tomando esse movimento. Constitui uma excelente ferramenta para todos nós que buscamos abranger essa nova visão que está se desenhando no horizonte, e dessa vez com bom senso, ou seja, tendo no centro o bem-estar das populações e a sustentabilidade do processo.

O ponto de partida é que se trata de nos reapropriarmos das regras do jogo. A economia funciona segundo pactos que a sociedade estabelece para si mesma. Quando a Finlândia decide que a educação funciona melhor como sistema público de acesso universal, e que um professor de escola primária precisa ganhar um salário equivalente ao que ganha um advogado ou um engenheiro, não existe “lei” econômica para isso; mas sim o bom senso pactuado no sentido de fazer a sociedade funcionar. A economia deixa de ser vista como ringue de luta-livre, onde o Estado apenas assegura as cordas e um apito. É uma nova visão: economia não é algo que temos de “entender” para nos adaptarmos o melhor possível, não se trata de “forças da natureza”. Economia é o conjunto das “regras do jogo” que podemos transformar e organizar em função da sociedade que queremos ser.

Não à toa temos ultimamente relatórios como New Rules for the 21st Century, do próprio Instituto Roosevelt, o Change the Rules: new rules for the economy da New Economics Foundation de Londres, o Alternatives Economiques de Paris, ou o próprio The Emerging Worldview que aqui apresentamos. Já apresentei em outro documento, A Economia Desgovernada: novos paradigmas, os posicionamentos em torno da Economia de Francisco, e tomadas importantes de posição de diversos grupos corporativos. Aqui, com Felícia Wong, temos uma tentativa de síntese disso tudo que está emergindo.

Como todo posicionamento hoje exige um “ismo”, aqui não se escapa: a análise propõe New Progressivism, ou seja, somos progressistas, mas não como os de antigamente. Busca-se algo novo. A que corresponde isso em termos políticos? Eu chamaria de capitalismo civilizado. Mas se trata, explicitamente, de uma visão de novas estruturas a desenvolver, não de uma volta a algum tipo de capitalismo mais democrático. “O novo progressivismo entende que os mercados são regidos por escolhas humanas. Isso significa que a política, as ideias e a ideologia importam. A quem os mercados deveriam servir, e a quem priorizar? Com que fins? Essas são decisões que o público deveria tomar de maneira afirmativa.” (p.37). Ou seja, a economia volta a se chamar economia política.

Neste mapeamento da nova “paisagem” científica que surge, o documento identifica quatro grupos, cujas análises convergem para uma nova visão de mundo (worldview). Um grupo compreende os “novos estruturalistas”, que focam o sistema existente e sugerem regras do jogo para o mercado, com reforma tributária, transparência dos fluxos, controle dos paraísos fiscais e semelhantes, como por exemplo as propostas do Piketty. Um segundo grupo, “provedores públicos”, com Mariana Mazzucato por exemplo, que foca o potencial do Estado como provedor direto de bens e serviços, em particular nas áreas sociais, pesquisa tecnológica, infraestruturas: aqui o Estado pode concorrer diretamente com o mercado. Um terceiro grupo é qualificado de “transformadores econômicos”: é um Estado que define estratégias de longo prazo, políticas estruturantes de grande escala, políticas de industrialização e semelhantes. O quarto grupo concentra-se na “democracia econômica”, na dimensão institucional, envolvendo o processo decisório da sociedade, buscando resgatar a dimensão democrática das transformações econômicas, inclusive a importância do poder local.

São quatro grupos que apresentam identidades diferenciadas, mas que notadamente convergem no sentido de uma visão estruturalmente diferente. Felicia Wong considera que os pontos comuns mais importantes são: 1) Os mercados não constituem sistemas que vão se estruturando livremente, mas são estruturados por políticas, escolhas e poder; 2) Essas escolhas podem guiar inclusive as maiores forças, e as mais disruptivas, como a mudança tecnológica ou uma maior integração global, no sentido de melhores resultados para a população; 3) Os valores importam. O progressivismo pós-neoliberal precisa definir como queremos que a nova economia funcione e como definimos sucesso, baseado no rol de valores que respondam às questões de uma economia com que fins, e uma economia para quem? 4) Arrumar as bordas da reforma das políticas é insuficiente. Um novo paradigma político é necessário, e deve ser construído sobre a base de uma mudança transformadora, estrutural. (p.9)

A imagem geral é de que o vale-tudo que chamamos de mercado, e que adquiriu temporariamente uma certa respeitabilidade acadêmica com Milton Friedman, e adquiriu dentes políticos com o Consenso de Washington, está saindo rapidamente de cena. Com quase 8 bilhões de habitantes, tecnologias extremamente poderosas e agressivas, e gigantes corporativos totalmente descolados das realidades que vivem as populações, nós estamos frente a um desafio de civilização, muito além de estreitas teorias econômicas. Uma nova visão de mundo, com o resgate da economia na sua dimensão de economia política, está emergindo. O texto de Felicia Wong é muito bom, simples (nada de economês) e muito bem sistematizado. E a bibliografia, como mencionei, constitui uma excelente ferramenta, em particular para os que como eu ensinam economia.

O Sadismo dos Bolsominions

*NAZISMO: BANALIDADE DO MAL OU GOZO DOS CARRASCOS?*

Qual o motor das barbaridades do regime evocado por secretário de Bolsonaro? Zizek discorda de Hannah Arendt. Para ele, obediência às ordens não explica tudo — até porque atrocidades ficavam ocultas. Haveria gozo compartido no horror alheio. Por Jodi Dean: http://bit.ly/2tsm92N

No Brasil, o que 350 anos de sadismos de nossas elites em relação aos escravos africanos e indígenas fizeram? Acho que Zizek tem razão e acho que ajuda a entender a nova ascenção da ultra direita no Mundo: Trump, Bolsonaro… Ajuda ao menos entender o sadismo das elites (e das classes médias) nos países que sofreram o colonialismo. Será que também nos que financiaram e fazem ou fizeram colonialismo? A experiência de Milgram adquire novas interpretações…

Porque Israel não quer paz?

Não interessa fazer a paz a Israel porque o conflito e a ocupação para nós é o melhor negócio: nós vendemos um know how inestimável no mundo inteiro que é o governo de populações ocupadas.

O mundo tende cada vez mais a ser um governo de populações ocupadas e nós disso entendemos.

Temos de um lado um exército inteiramente empresarial, de mercado, pós-fordista, fundido com o mundo dos negócios, da indústria bélica. É uma força exponencial, paradigmática, modelar, de controle anti insurrecional, contra insurgência da própria população.

Controlamos uma população majoritária, maior que a nossa, que vive em um permanente pesadelo. Vigilância, controle, armamento, uso político dos drones e nós exportamos isto. Não é apenas a ocupação territorial… Não é ter machucado e ser machucado tanto que a negociação não possa existir. É um negócio.